Sobre o que deve ser dito e o que deve ser cantado

1 12 2010


E o que não foi cantado, ficou estampado no rosto dos guardas.





Estrofes do acompanhado

12 11 2010

Sem tempo pra escrever algo meu, posto um pedaço de algo que é meu, esta em mim, mas quem escreveu foi outra pessoa, por sorte, só porque nasceu antes (o lado bom de ser ateu é não achar que vou queimar no inferno pela prepotência desta declaração)

Segue um trecho de Castro Alves:

ESTROFES DO SOLITÁRIO

Basta de covardia! A hora soa…
Voz ignota e fatídica revoa,
Que vem… Donde? De Deus.
A nova geração rompe da terra,
E, qual Minerva armada para a guerra,
Pega a espada… olha os céus.

Sim, de longe, das raias do futuro,
Parte um grito, pra – os homens surdo, obscuro
Mas para – os moços, não!
É que, em meio das lutas da cidade,
Não ouvis o clarim da Eternidade,
Que troa n’amplidão!

Quando as praias se ocultam na neblina,
E como a garça, abrindo a asa latina,
Corre a barca no mar,
Se então sem freios se despenha o norte,
É impossível – parar… volver – é morte
Só lhe resta marchar.

(…)





No país das maravilhas

9 11 2010

Olhava palavras; pensamento distante
Corriam as páginas; e continuamos separados
Quando em uma linha me vejo

Alice se sente estranha
tendo que mandar presentes a seus pés
que estão, agora, tão longe dela

Meu coração também,
anda fora do meu peito
Seus lábios não estão aqui
Nem os meus

Seu sorriso,
melhor presente,
continua aqui
Mesmo (parecendo) ausente

Em pouco tempo tudo se tornou tão diferente
Nada parece impossível, em tudo podemos acreditar

Mesmo longe, continuamos a sonhar
Quem sabe não é o vento minha asa
Sua banheira minha morada
A lareira um túnel pelos céus

E de olhos fechados
Estamos de novo abraçados





Correm os dias como se arrastam os minutos

7 11 2010

Enfrentando um fim de semana chuvoso, destes que só a entrada do verão traz para as terras do lado de cá. Penso no significado de enfrentar algo que não se pode vencer agora, mas contra se deve sempre lutar.

Nas páginas de um livro encontrei a beleza da indignação, nas flechas com que os gauleses atacavam o céu, revoltados contra os desejos de seus deuses.

Em uma música do Chico esbarro na beleza do amor e na música seguinte fico atento à beleza de estar vivo e ver a grandeza de ser humano.

Já não sei onde tropeçarei nos próximos minutos, mas isso só me leva a seguir em frente. Penso sobre como é escrever, sobre o tempo e sobre a vida.

Enquanto me escapam os segundos por entre os dedos, os uso, tanto os dedos quanto os segundos, para escrever um pouco sobre a vida.

As coisas seguem o curso que nada tem de natural. Crianças pedem caveirões de presente,mulheres saem do cinema defendendo o massacre do Carandiru e quase todos se entorpecem diante da TV.

As BRs seguem matando e a PM também. Poucos o dizem,difícil é entender como tantos se calam.

Domingo sempre é um dia complicado pra mim, acredito que talvez pela iminência da segunda e da rotina que mata, massacra e desalma.

Fico por aqui, deixo um abraços cheios de esperança para os amigos e um dedilhado instigado por Toquinho, que insiste em enfrentar a tristeza a dizer que é preciso inventar de novo o amor.

Aos amigos Ivo, Pri Piotto e Cambraia





A música e seu tempo

19 06 2010

Hoje vi um clipe onde uma moça , acompanhada de um banjo toca “Smells Like ten spirits”, do Nirvana. A música ficou até legal, mas eu ficava escutando e sentia falta de alguma coisa.

Quando vi, sentia falta era de toda a energia que a música tinha. O que me marcava era a indignação contra tudo. Eu nunca tinha lido a letra da música, nem sabia muito do que se tratava, mas dava para sentir que era uma música indignada de alguém que crescia e ainda não se entendia bem no mundo e nem queria se entender com ele. Algo que muitos adolescentes sofrem.

Mas na versão folk, faltava alma. Fiquei pensando sobre isso. Hoje a música que os “revoltados” escutam não tem nenhuma revolta. As bandas dos atuais adolescente esta mais para o conformismo, para a auto-piedade. Ai estão os emos, tristes e chorosos, buscando a melhor maquiagem para os deixar parecendo mais tristes, mais apaticos, mais sem personalidade. Eles não me deixam mentir.

Isso mostra um pouco do tempo que estamos vivendo, essa falta de revolta é muito dura. Não por acaso Seatle, a cidade onde nasceu o Nirvana, durante muito tempo foi palco de grandes manifestações.

E eu continuo gostando de música de revolta.

Post dedicado ao Pedro BMX de Sete Lagoas e sua camisa velha do Nirvana





20 05 2010

Tinha um calendário que marcava os dias perdidos
Jogava pelo chão as folhas de dias passados
que se perderam, sem memórias ou marcas

Em alguns cantos havia fotos
que registraram momentos
e envelheciam com o tempo

Olhou-se no espelho
seu corpo carregava histórias
Um amor para cada ruga
Lembrava-se de cada cicatriz
mesmo aquelas da infância

Seu rosto já não era o que lembrava
Estava velho
Encarou seus próprios olhos
quis desvendar sua alma
e só então se deu conta do silêncio

Procurou uma grande foto sua
e rasgou, separando com as mãos seu rosto jovem
em um pedaço de papel

Por um momento escutou
o som produzido naquele trabalho

Colou um antigo rosto sobre si mesmo
No espelho

E olhou os olhos da foto
Que muito diziam
Contavam histórias de dias passados
felicidades compartilhadas

Percebeu que o rosto escondido pela foto
Era ele

E mais uma vez sorriu





Poema para Chaplin

10 02 2010

Quis fazer um poema para Chaplin
E escrever um poema mudo

Mas como me calar diante deste mundo
Que você mesmo denunciou

Não falar destes tempos modernos
Onde homens aceitam se tornar maquinas
E desdenham quem não se torna uma engrenagem

Não denunciar o pequeno ditador de todos os dias
Que faz do carro seu tanque de guerra
De sua família um exército
De sua ignorância o mundo

Quando se apagam as luzes da ribalta
e já não brilham mais as telas de cinema
em um canto perdido do mundo
Uma boca muda se abre
e um garoto morre de fome

Deixo pra Chaplin um poema e uma promessa
Enquanto houver injustiça
Não faço poema mudo





Quatro pés em um pé de qualquer coisa

30 11 2009

Alguns dias atrás, subi em uma árvore junto com meu filho de 3 anos. Lá em cima me lembrei de uma frase que li há algum tempo, era algo como: “compartilhar uma música é uma forma de dividir um sentimento”.

– Quer aprender uma música?

-Quero.

Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você além das outras três
Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava o rock para as matinês

Ensaiamos  algumas vezes, e o pequeno já estava completando o final de cada verso, ligo para minha avó, que me cantava esta música quando eu era pequeno. E foi também quem me ensinou a subir em árvores.

Depois de conversar um pouco com ela, digo que tenho algo pra mostrar. Puxo um pedaço da canção e o pequeno completa, assim vamos pelos versos. Quando terminamos tenho lágrimas nos olhos. Estou feliz, canto pra uma pessoa que amo, com o acompanhamento de meu filho, em cima de uma árvore, uma bela vista da cidade, a vida pela frente.

Disfarço a voz para não mostrar a voz de choro. Me despeço e desligo o telefone. Na minha cabeça lembranças de uma infância, em meus braços uma criança.

Penso sobre a letra:
Pra lá deste quintal
É uma noite que não tem mais fim

Quando aprendi esta música, atrás dos muros do meu reino, corria o ano de 1987, ainda vivíamos todos sobre a sombra da Ditadura Militar, havia esperanças na vida de muitas pessoas. Na minha família muitos sonhavam com um mundo mais justo. Alguns saiam às ruas  para defender seus sonhos.

Hoje, vinte e dois anos depois, persistem as sombras. Tristemente grande parte das pessoas deixaram de sonhar com algo mais que um bom emprego. O individualismo é o pai-nosso pregado pelos livros de auto-ajuda, pelas palestras motivacionais, pela tela da TV, pelas páginas de jornais.

Mas não creio que seja uma noite que não tem mais fim. Comigo, alheio aos meus pensamentos, escalando galhos um pouco mais altos, um curumim de olhos e cabelos negros sorri. Os sonhos ainda existem.





Amor em tempos de telenovela

25 11 2009

Antes de mais nada, deixo claro que vejo nas novelas uma grande perda de tempo, uma forma de brutalização de pessoas e criação de um mercado massificado. Mas alguns aspectos são por demais cruéis.

Faz parte do enredo batido que se repete sete vezes por semana, em cinco horários diferentes por quatro canais abertos: um casal apaixonado – os mocinhos; de fora, fazendo o possível para atrapalhar, um par de vilões, desprezados e vingativos, desejando ter de volta o amor de um dos que fazem o papel principal da trama.

Logo, o amor é o sentimento que conduz os personagens. O amor dos “bandidos” é sempre doentio, resiste a tudo, todas as interpéries, e segue firme, até que a morte no último capitulo os separe, para felicidade geral da nação. Fica a lamentavél ideia de que a morte é a única possibilidade de escapar de um amor indesejado.

Mas o quadro se torna ainda pior quando observamos o amor dos mocinhos. Um não nutre a menor confiança no outro, os dois são incapazes de conversar sobre seus problemas, a saída para todos os problemas são rompimentos, um termino que dura até a semana final do folhetim, quando se casam, pouco antes de um vilão cair com o carro em um despenhadeiro.

Imagine como serão os amores daqueles que são criados ou vivem rodeados por estes exemplos?

Deixo uma dica com um caso que aconteceu comigo.

Estava em um táxi coletivo quando uma música começou a tocar no rádio. Ao ver uma passageira fechar os olhos emocionada para acompanhar a letra, resolvi prestar atenção. Segue um trecho:

Não ligue se eu lhe perguntar
Nem vá se estressar se eu quiser saber
Com quem e aonde você tá
Que hora vai voltar, e o que vai fazer…
Não tô pegando no seu pé
É que quando a gente quer a gente vai à luta
Mas não desligue o celular, eu vou te rastrear
Porque quem ama cuida…


Até ai eu já estava bastante assustado. “Não desligue o celular eu vou te rastrear”, se não beira a psicopatia, já pulou pro lado de lá. E a minha companheira involuntária continuava de olhos fechados, parecia imaginar seu grande amor cantando para ela. Então veio a continuação:


Ei, não é ciúme, eu confio em você…

Daí em diante fiquei realmente preocupado, não consegui mais prestar atenção na letra, pensei na minha vida, pensei em meu filho e meus amigos.

Quando desci do táxi, esperei que ele me perdesse de vista. Me abaixei e pus o ouvido no chão, ouvi o barulho de cascos, era a barbárie se aproximando. Ela estava a galope.





Lendo asas

20 11 2009

…eu leio suas asas…
como quem lê a palma de uma mão
estranhas linhas que só dizem liberdade
e se cruzam em sonhos

Leio suas cartas como quem pode voar
E sinto no rosto o vento de um horizonte sem fim